CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA – UFMG – 2004
Texto elaborado por
Viviane Machado Silva Ribeiro
Sabemos que, para cada etapa do desenvolvimento infantil existem tipos de brincadeiras correspondentes, então, no sentido de refletirmos sobre o brincar no berçário, faz-se necessário conhecer como a criança de 0 a 18 meses brinca e se desenvolve.
Reflexões sobre o Brincar no Berçário (3-18 meses)
Para o bebê (0 a 3 meses) as primeiras manifestações lúdicas ocorrem a partir das ligações afetivas como o embalo, o carinho, o canto e a partir dos momentos de cuidados básicos (sono, alimentação, banho, etc). Assim a relação afetiva com a mãe é primeira fonte de prazer, mas o corpo será seu primeiro brinquedo: o bebê brinca com as mãos, com os pés, com o corpo e assim vai descobrindo os seus movimentos o que faz com que sinta enorme prazer. Também se interessa por aqueles brinquedos que lhe proporcionam experiências visuais (como os móbiles) e sonoras (como os chocalhos).
A criança de 4 a 6 meses, adquire um certo desenvolvimento motor, permanecendo-se sentada por mais tempo. Esta mudança de posição (deitada para sentada) lhe proporciona ver o mundo de uma forma diferente daquela a que estava acostumada: os objetos passam a ser vistos de um novo ângulo e ela passa a se relacionar melhor com o ambiente. O corpo ainda é o seu brinquedo favorito, mas surgem outras brincadeiras como a de imitação do adulto (bater palmas, mandar beijos, etc.). Também aprecia brincadeiras de repetição através de seus balbucios e de “esconde-esconde”. Aqui o adulto também começa a ser usado como um brinquedo. Gosta de manipular objetos e há uma tendência a explorá-los com a boca.
Por volta dos 7 até os 12 meses, a criança passa por um grande desenvolvimento motor, pois ela se torna capaz de alcançar novos espaços: arrastando-se, engatinhando e finalmente se põe de pé e dá seus primeiros passos. A criança passa então a ir em busca dos brinquedos, pega tudo que está ao seu redor, brinca por um tempo sozinha, mas gosta de ter o adulto por perto (o que lhe dá mais segurança).
Dos 13 aos 18 meses, a criança apresenta grande desenvolvimento da linguagem: o balbucio evolui para as falas acompanhadas de mímicas expressivas. Nesta fase, a criança se interessa por brincadeiras que envolvem a imitação, exploração de gravuras, escuta de músicas entre outras. Para ela, andar sozinha, significa um ampliação das possibilidades de exploração do espaço e dos objetos. Por isso, está constantemente em movimento, gosta de explorar espaços e brinquedos diversos (há uma grande rotatividade). As brincadeiras ainda não são compartilhadas: as crianças gostam de estar juntas mas desenvolvem brincadeiras paralelas.
Para o educador é fundamental saber como as crianças brincam e, principalmente, como elas se desenvolvem (desenvolvimento afetivo, físico, lingüistico, etc), pois, é a partir deste conhecimento que poderemos intervir, criando estratégias que auxiliem a criança no seu processo de construção do conhecimento.
Na nossa prática acreditamos que Brincar é fundamental para a criança, pois é uma das formas principais que ela dispõe nesta fase para aprender. Então partindo deste pressuposto de que a criança “aprende brincando”, nós organizamos os nossos objetivos pedagógicos, que são desenvolvidos principalmente através das brincadeiras.
Observando-se o dia-a-dia no berçário, vemos que o tempo destinado aos cuidados das necessidades básicas (sono, banho, alimentação, trocas) ocupam grande parte da rotina das crianças e esta é prioridade do nosso atendimento. Por isso as brincadeiras devem ser organizadas de modo a não atrapalhar estes momentos.
Neste sentido as brincadeiras organizadas procuram unir prazer, bem-estar e aprendizado. Ou seja, as crianças devem ser "convidadas" (estimuladas) a participar das brincadeiras; não há uma imposição, uma "obrigatoriedade" em participar desta ou daquela atividade, pois as crianças têm desejos e necessidades próprias, que devem ser respeitados, no sentido de garantir o seu bem-estar. E a fim de se garantir o prazer e o aprendizado na realização das brincadeiras, devemos lançar mão da criatividade como principal "ferramenta de trabalho", criando e adaptando brincadeiras. Buscando ainda valorizar não só que as crianças conseguem fazer sozinhas, mas também, o que conseguem fazer com a nossa ajuda; permitindo que a criança faça escolhas, respeitando o seu ritmo de desenvolvimento, favorecendo uma postura de curiosidade, promovendo a interação e, principalmente, lançando desafios.
Mas é claro que o educador não está presente em todas as brincadeiras das crianças, pois há momentos em que a criança cria suas próprias brincadeiras, requisitando ou não a participação do adulto. Ou seja, não podemos esquecer que a brincadeira é uma atividade espontânea da criança, e que não podemos transformar todas as brincadeiras em “estratégias de aprendizagem”, pois é importante que a criança brinque pelo simples prazer que a brincadeira lhe proporciona.
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